Hoje é meu último dia na África. Resolvi acordar bem cedo e subir a Lion’s Rock seguindo a dica de Ronnie. Ontem na saída de Water Front - beira mar de Cape Town - acertei com o taxista para me levar ao acesso da trilha. Ele é um senhor de 71 anos chamado Errol, ex-corredor de maratona que uma vez por semana faz um incrível trekking de 5 horas de Water Front até Devil’s Rock, subindo pelas encostas da Table Rock. Cerca de 20 Km.
Errol resolveu me acompanhar na subida da Lion’s Head ainda de madrugada. Eu não poderia ter melhor companhia. Estacionamos na entrada da trilha e iniciamos a subida em bom ritmo. Desde o início já imaginei que o velhinho era uma pedreira. Ninguém corre maratona a toa. Ele me disse que correu quatro vezes uma corrida de 100 Km aqui na África do Sul. 100 Km?! Errol estava realmente em boa forma e precisou menos 40 min para atingir o cume. Eu usei a boa desculpa de parar para algumas fotos daquela paisagem incrível o que me deu fôlego extra, chegando pelo menos 15 min depois. Na descida cruzamos gente da cidade que faz ali pela manhã seu exercício diário, principalmente mulheres jovens que Errol - um homem divorciado e de bem com a vida - não deixou passar alma viva em brancas nuvens. Tinha sempre um cumprimento diferente ou algo interessante a dizer que inevitavelmente provocava sorrisos. Na verdade, ele dava sempre um jeito de fazer elogios da maior elegância. Vi que tinha mesmo o que aprender com o aquele senhor.
Para chegar no cume da Lion's Rock é preciso fazer algumas escalaminhadas próximas ao desfiladeiros que dão aquele friozinho na barriga e subir algumas escadas chumbadas em trechos estratégicos. Uma vista de 360º recompensadora de toda cidade apresenta as montanhas que localizam estrategicamente CT no extremo sul da África do ladinho do Cabo da Boa Esperança e fazendo as honras do encontro das águas entre o Atlântico e o Índico.
Cada lugar transforma um pouco você. Assim aconteceu comigo nas trilhas das serras do Brasil, nos desertos e montanhas do Chile e Peru, na Espanha, na Austrália e outros países que estou tendo o imenso privilegio de conhecer nesta vida. Mas a África me marca agora de uma maneira diferente. Talvez pela forma com que tive contato com a terra, a vida selvagem e principalmente sua gente. Não volto o mesmo para casa. Foi esta "diferença" que vim buscar. É isso que levo daqui.