sexta-feira, 29 de outubro de 2010

5o dia de travessia - Voi para Ngatuni - 60 km

Depois da subida de Taita Hill a impressão que tínhamos era que qualquer coisa depois daquilo seria mais fácil. Os trechos mais planos só foram interrompidos pela base do Monte Sagala que precisamos contornar. A paisagem continuou árida e a dificuldade ficou por conta da areia e irregularidades das estradas vicinais que usávamos.

Este dia foi marcado pelas várias escolas de ensino fundamental que passamos e a grande quantidade  de crianças que encontramos. O grupo de 40 bicicletas com carros de apoio chamava a atenção naquele lugar distante da civilização. As crianças corriam para nos ver e deve ter sido um dia de aulas interrompidas e intervalos agitados. Um dos bikers fez contato prévio com uma ONG que distribui bolas de futebol por todo o mundo fabricadas em países pobres. Engajamento social + geração de emprego + bolas de futebol = crianças mais alegres. Simples e efetivo em um lugar onde as bolas que vi eram feita de plástico velho e barbante.

Dois aspectos contrastantes me chamaram atenção durante todo o trajetos: pés de descalços e uniforme escolar. Apesar de serem muito pobres as crianças quenianas vão em massa a escola. Não têm sapato mas  vestem uniforme limpos. Melhor que os cadernos, escritos a lápis, encapados com jornal. No Brasil o tênis ainda ganha do uniforme e muitas vezes as ruas das escolas.

Em uma das escolas aconteceu algo bem espontâneo e belo de se ver. Um grupo de bikes entoou o "God Save the Queen", o hino inglês, e pediu para as crianças cantaram algo. Depois de um certo silencio tímido e coletivo, compreensivo para a faixa etária de 8 anos, veio uma bela canção em Swahili que no post seguinte tentarei deixar o vídeo que fiz.

4o dia de travessia - fotos







domingo, 24 de outubro de 2010

4o dia de travessia - Downhill Taita

Fazer um downhill depois daquela subida histórica era de se esperar mas não tudo aquilo. Meu Deus! Interminável como foi no Peru em Julho, com uma diferença: pegamos a maior parte em asfalto e  desenvolvemos boa velocidade. Curiosidade: eles chamam o pavimento asfáltico de Turmac - o tur vem de alcatrão e o mac de macdamie que é o nome do engenheiro que inventou. Lembrei de uma aula de uns 25 anos atrás do meu curso de engenharia.


A estrada tinha buracos mas dava para seguir embalado com uma dose de auto-confiança e boa experiência. Segui na frente com o Benjamim, um dos mais experientes bikers do grupo mas fui mais rápido nas curvas (uhuuuuuu.. fui a 63 Km!) e aproveitei super bem. Dá próxima vez vou trazer uma câmara para filmar este tipo de coisa. Seria um vídeo e tanto.


A maior parte do pessoal tem acima de 40 anos. Dois garotos filhos de velhos participantes tem apenas 17 anos. O maior velho, Gordon Fox, um dos criadores da idéia da travessia internacional tem 74 anos. Acreditem! Ele fez todo o percurso sem ajuda. Não dá para não tentar com um exemplo destes, concordam?!


Todos eles fazem parte de uma instituição britânica chamada Norwood. A Norwood existe a mais de 100 anos e cuida de pessoas (adultos e crianças) com deficiência de aprendizagem. A travessia, que eles chamam de challenge (desafio), tem a finalidade de levantar fundos para ajudar a cuidar destas pessoas.  A idéia básica é envolver amigos e outras pessoas do networking para contribuir com a Norwood. Cada um paga pelo seus próprios custos da viagem e usa a idéia do desafio para estimular as pessoas a contribuírem. No Reino Unido há uma enorme tradição de ajudar instituições como a Norwood. Eu cheguei a preparar meu site e divulgar mas basicamente ninguém fez doação. 

4o dia de travessia - Taita Hills para Voi - 78 Km

Chegamos no dia mais difícil com muita apreensão. Muita gente acabou tomando algo para conseguir dormir. Devido as dores, mesmo bem cansados, deitar e dormir, e acordar de madrugada não era tão fácil.


Saimos do refúgio de Tsavo West exatamente as 6 da manha e chegamos ao pé da montanha as 8 horas já com o sol forte. A paisagem fui mudando rapidamente. Muitas árvores e o verde foram substituindo a aridez da savana. Fui bem devagar no início e fiquei para trás no pelotão. Ao contrário dos outros dias encontramos muitas comunidades ao longo do rota. Todas as encostas sao bem aproveitadas para agricultura de subsistência e de repente o Quenia dava a impressão de ser mais fácil de sobreviver.


Depois de 10 Km subindo sem parar tudo começa a doer. Usei sapatilhas com hoje para ajudar. O terreno não era tão irregular e não fiquei com receio de cair como no primeiro dia. Mas o joelho deu sinal de vida. Primeiro o esquerdo, depois o outro. Já sem bandagem nos hilíacos, o atrito e o calor foram aumentando o incomodo. Depois costas, pescoço e mãos, apesar da ajudas das bar ends.


Parei pela 2a vez para tomar água mas parar definitivamente não é bom negócio. Perde-se o ritmo e é difícil voltar para a bike e pedalar forte. Ao se aproximar dos 20 Km de subida os músculos das pernas ardiam muito. Me perguntei: o que estou fazendo aqui nesta via crucis?!


O que nos empurra em um estágio destes são duas coisas: desistir pode ser pior e a sensação de faltar cada vez menos para atingir o objetivo. Estava na metade do pilotão quando enxerguei o carro de apoio no alto da subida. Esta última parecia interminável depois de 23 Km up hill com desnível de 1,2 km. Os cerca de 15 bikers que estavam lá começaram a gritar meu nome e bater palma: go Jonas, go! Deu vontade de chorar (sou chorão mesmo..) mas continuei a pedalar como se aquilo valesse uma vida. Consegui! 

sábado, 23 de outubro de 2010

3o dia de travessia - fotos




2o dia da travessia - fotos





1o dia da travessia - fotos






3o dia de travessia - Taita Hills - 80 km

Eu fui anotando no Word porque ficamos toda a travessia sem conexão. Então vou postar os textos originais de cada dia. Ahh.. isso significa que sobrevivi.. :)


Hoje é terça e atravessamos uma parte de Taita Hills. O trecho foi relativamente plano e a dificuldade ficou por conta da areia solta e macia. Foram 50 km. Procurei o serviço médico logo cedo ontem a respeito do bumbum. Inventamos duas bandagens para proteger os ilíacos e isso alivou um pouco. Minha preocupação é a piora dos ferimentos e inflamação. Daí adeus bicicleta. Antes apliquei boas camadas de Drapolene e Chamois e graças a Deus não houve piora significativa.


Vou postar algumas fotos da travessia.


Está tudo mundo apreensivo com o dia de amanhã. Vamos subir 23 Km de Taita Hill e depois descer para Voi. A maioria nunca subiu tanto de uma só vez, muito menos em terra e no calor intenso da Africa. Ai que frio na barriga..

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

1o e 2o dia de travessia - Amboseli - Tsavo West - Taita - 156 Km

Ontem não tinha Internet no refúgio de Tsavo (onde chegamos depois de sair de Amboseli) e estou postando aqui de Taita Hills, onde chegamos hoje.














Estou super cansado. Ontem foi bem difícil e hoje terrível! Estou muito dolorido depois de quase 200 Km, mais de 20 horas, em trilhas de terra, as vezes com muita areia e pedra. Predominaram as subidas longas e trechos planos ... silencio.. caraca, acabou de entrar um animal aqui onde estou que nem sei o nome.. fiz barulho e o bicho me olhou e fugiu.. credo .. voltando.. mas é muito longo o percurso nestas condições. Até que pernas e costas aguentaram bem mas my butt está doendo muito. Sabe ali nos dois ossinhos.. ui. Como existe muita ondulação fica batendo ali. Estou usando compressas e amanhã saio com duas bandagens para evitar o pior.


Agora vamos ao lado bom.. bom não.. sensacional. A vida animal, como eu já esperava é a grande atração. Algumas paisagens são lindas mas ver animais selvagens a toda hora em seu habitat natural é mesmo incrível. Cruzamos zebras e gnus aos montes, bando com centenas. Gazelas e Antílopes também não faltam. Famílias de elefantes em manadas de 15, 20 animais. Búfalos, pássaros enormes, outros muito coloridos. Vai ser difícil transmitir aqui este tipo de sensação. Vamos ver se as fotos falam por si. Depois conto mais.. já é tarde aqui (meia-noite) e todo muito foi dormir.

sábado, 16 de outubro de 2010

Saída de Amboseli

Está um Sol escaldante aqui. Amanhã vamos encarar um longo trecho. É outra coisa ficar cercado de gente legal e bem humorada. Agora as horas parecem que nem passam.


Hoje foi incrível. Fotos sensacionais. Vida selvagem com toda a intensidade. Me encantei com o carinho com que as mamães elefantes tratam seus filhotes. Depois tento postar fotos aqui, não sei porque não está indo. Vejam meu perfil no FB.


Se tiverem a chance de fazer isso uma vez na vida, só posso dizer uma coisa: não percam!



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Parque Nacional de Amboseli

Logo mais a coisa começar a ferver literalmente por aqui. A trilha vai ficar pesada e os trechos longos (80 Km!). Já estranhei a comida para variar. Os ingleses (meu grupo tem 36 ingleses, 01 americano e eu) ficaram preocupados porque eu não tomei remédio para Malária dizem que pega para valer e sempre faz vítimas. Bom, eu estive no Ambulatório dos Viajantes no HC e me disseram que não adiantava porque iria viajar na semana seguinte e era para tomar bem antes. Só se for o remédio disponível lá pois eles conseguiram um para mim que protege já no segundo dia. É só continuar tomando todos os dias da viagem e até 6 dias depois. Como hoje é o primeiro dia e estou aqui rodeado da mosquitos, somente o repelente me protege por enquanto (precisa ser a base de DEET e de alta concentração) por isso preciso sair rápido. Por enquanto desisti das fotos aqui pois não carrega. Mandei algumas pro Facebook.. até a próxima!

Jambo! (hello in Swahili)

Fui descobrindo os encantos do Kenya aos poucos. Não é exagero afirmar que foi das pessoas até agora foi o que mais gostei. Fui muito bem recebido e atendido onde fui. O inglês aqui é um problema à parte. Os locais têm um sotaque próprio, difícil de entender pelo menos para mim. A língua oficial é o Swahili e eles usam mais do que o inglês entre si. Além disso, todos falam a língua da própria tribo. Me contaram que são 42 ao todo. Imaginem se cada resolver falar somente a sua.. :)

The Thorn Tree Café

Adoro o guia Eyewitness. É difícil não gostar das dicas e tenho uns 10 em casa. Então fui no recomendado Thorn Tree Café que fica em um hotel tradicional de mais de 100 anos. Todo mundo importante que visitou o Kenya no passado ficou lá, incluindo Clark Gable and Grace Kelly. Demorei para descobrir que a tal Thorn Tree é uma Acácia. Estas árvores, que existem no Brasil (algumas ruas em Joao Pessoa são cobertas delas) ficam enormes aqui e tem centenas de anos de idade. O exemplar que deu nome ao café foi cortado por segurança e outra nova plantada no lugar. Do lado um mural sustenta os recados dos visitantes. Deixei o meu. Dos que li dois me chamaram atenção. Um de alguém que voltava ali 50 anos depois e lembrava-se do recado que deixou aos 10 anos quando criança e outro que marcou um encontro com uma garota em 2011. O café é um ponto chic na cidade. Todo mundo estava bem vestido, exceto os visitantes estrangeiros. A atendente muito simpática e sorridente, como quase todos aqui, me deu várias dicas e me ajudou no cardápio de pratos locais.

Dicas para não virar comida..

Enquanto esperava meu amigo (o nome dele começava com Mw.. não vou lembrar nunca do restante), conversei com um senhor que parecia ser o concierge do Boulevard. Ele me perguntou se estava ali para fazer um safári (todos perguntam a mesma coisa..) e me contou duas rápidas histórias de hóspedes que ele conheceu. A primeira de um casal da Australia que se arriscou além da cerca de proteção de um parque para fotografar um filhote de hipopótamo e a mulher morreu vítima da mãe dele. Ela foi cortada ao meio (ui!) pela boca do bicho que funciona como uma tesoura (!?), explicou. A outra foi a respeito de alguém que foi pisada por um elefante furioso. Ele disse que o bicho enfurecido é capaz de derrubar uma árvore para conseguir pegar um humano inoportuno. Por fim me deu duas dicas: sempre obedeça as regras dentro das áreas selvagens e fique bem longe dos búfalos pois são os animais que mais atacam humanos por aqui.

Nairobi

Nairobi é como toda cidade grande. Levamos 1 hora no tráfego do aeroporto para o hotel Boulevard. Eu fui recomendado a não sair porque escureceu rápido (escurece as 5:30 e o Sol nasce as 7:00). Queria ir ao centro caminhando e dei um jeito esperando a troca de turno de um rapaz da recepção que gentilmente se ofereceu para ir comigo, pois me viu relutante em querer ir de taxi. No caminho entendi melhor. Além das ruas escuras, os cruzamentos são perigosos. Quase não há semáforo ou faixa de pedestre. Vem carro de tudo que é lado e gente de tudo que é canto. Foi o primeiro lugar que fui e realmente me senti diferente. A população é quase 100 % africana e o diferente é sempre observado.

Nairobi - Amboseli

Depois do longo voo e uma noite em Nairobi cheguei a Amboseli. Tudo bem por aqui. Depois conto como foram os detalhes da viagem e posto umas fotos. A Intermet e a energia tem horários determinados. Aqui são 15:00 pm. Volto mais tarde. Valeu!

sábado, 9 de outubro de 2010

Preparação difícil..

Vou precisar de boa dose de sorte mais uma vez. Nas ultimas semanas tive gripe, sinusite, virose, reação a vacinas e os remédios detonaram meu estômago.

Me preparei bem menos do que deveria e estou apostando na forma adquirida nos ultimos meses e na boa resposta que o corpo me deu na viagem a Cordilheira Blanca no Peru.

Melhorando de tudo até a partida, minha expectativa é que a adaptação venha rápida e adquira ritmo nos primeiros dias. Veremos..


Fé em Deus e avante!